Efeito Mandela: a teoria do surto coletivo

Você já sentiu que seu cérebro estava pregando uma peça em você? Que você poderia jurar de joelhos que algo havia ocorrido, mas todas as provas indicavam que não? Agora, imagine que o mesmo aconteça com um grande grupo de pessoas, que todas elas compartilhem de uma mesma lembrança, inexistente. Loucura, né? Mas isso acontece - e muito! Bem vindo(a) ao Efeito Mandela. 

Esse fenômeno começou a ser estudado com a morte do líder sul-africano Nelson Mandela, em 2013, e daí o nome. O termo foi cunhado pela escritora Fiona Broome, uma das milhares de pessoas que lembravam-se da morte de Mandela - só que nos anos 80. Essas pessoas afirmavam ter a nítida memória de ver reportagens e imagens do velório do ativista na década de 80, quando ele foi preso, e se espantaram ao receber "mais uma vez" a notícia de sua morte. 

Outro exemplo popular no Brasil toma espaço no dia 11 de setembro de 2001. O que você estava fazendo quando ocorreu o ataque às Torres Gêmeas? Jovens, que eram crianças na época, se recordam de estarem assistindo a Dragon Ball na TV Globo. Eles até mesmo citam qual era o episódio e a cena que estava no ar quando a programação foi interrompida para um plantão de emergência. Porém, ao se acessar a programação para aquele dia, constata-se que o anime nem chegou a ser reproduzido. 

Estaria o governo apagando nossas lembranças? Seria um erro da Matrix? Ou será que estas supostas memórias são na verdade interações do nosso universo com um universo paralelo? Essas teorias, apesar de muito criativas, não passam de conspirações. Na realidade, todas essas histórias só começaram com uma informação inverídica. Não falamos necessariamente de fake news, mas de mentirinhas inocentes, contadas por pessoas que acreditavam falar a verdade. 

É mais sensato entender que nossos cérebros não funcionam como máquinas e podem facilmente esquecer ou deturpar uma informação. É quase instintivo que nossa mente tente preencher essas lacunas que sobram com algum tipo de informação crível e nossa imaginação faz esse trabalho, criando uma memória sintética. 

Aposto que algum dia vamos acabar descobrindo que as tecnologias dos Homens de Preto não eram mera ficção (Imagem 2)

Mas seria improvável que um grande grupo produzisse uma mesma lembrança, não é mesmo? Acontece que, quando nos falta um trecho de memória, estamos muito vulneráveis a aceitar qualquer ideia sugestiva que outra pessoa nos diga. Como em uma brincadeira de telefone sem fio, essa mensagem passa de boca em boca, sendo alterada e complementada indefinidamente. E, no fim, o ditado se faz real: Uma mentira contada mil vezes se torna verdade - cria-se uma memória coletiva.

Talvez o caso mais curioso seja o do filme Shazaam, uma comédia infantil dos anos 90 que conta a história de um gênio da lâmpada, mas do qual não resta nenhum registro hoje. Seus fãs afirmam que o longa foi protagonizado por Simbad e são capazes de narrar sequências inteiras da trama. Acontece que o filme nunca existiu. De onde vem essas lembranças? Há teorias que explicam sua origem! Conheça essa história e mais muitos exemplos do Efeito Mandela no cinema no mais novo episódio do SE7ECast! 

E aí? Acha que você também foi pego pelo Efeito Mandela ou suas memórias estão intactas? Faça este teste agora e coloque sua memória a prova!

Imagem 1: Cena do filme Divertidamente. Dois seres disformes e verdes com braços e pernas utilizando capacetes e óculos de operário manuseiam uma mangueira que suga esferas coloridas de estantes em todas as paredes. As esferas representam memórias. Um terceiro ser semelhante faz anotações em uma prancheta. A personagem Felicidade tenta resgatar algumas das esferas, segurando diversas delas em seu colo. Ela está em pé, curvada para trás com o peso que carrega. Ela tem pele amarela, cabelos curtos azuis e traja um vestido verde com pregas. As prateleiras são muito altas e vastas para se ver o fim. Há uma escada com rodas acoplada a estante da extremidade direita da imagem. Algumas das esferas estão caídas no chão.

Imagem 2: Cena do filme Homens de Preto. Os atores Will Smith e Tommy Lee Jones trajam ternos e gravatas pretos, camisas brancas e óculos escuros. Ambos estão parados olhando para frente seriamente e Will Smith segura um neuralizador em sua mão direita. O objeto é cilíndrico e prateado com a ponta superior verde.