O que a Rupi Kaur faz com os leitores


A frase “não sei o que dizer, só sentir” cabe muito nesta resenha. Rupi Kaur é uma escritora contemporânea, feminista, nascida no dia 5 de outubro de 1992, em Panjabe, na Índia. Aos quatro anos, emigrou com os seus pais para Toronto, no Canadá. Ficou conhecida através do Instagram, como “instapoet”, porque seus poemas renderam muito engajamento na rede social. O seu livro “O que o sol faz com as flores” saiu em 2017, e, neste ano de 2020, foi uma das melhores experiências literárias que eu tive.

O livro é dividido em cinco partes que representam a vida de uma flor: murchar, cair, enraizar, crescer e florescer. Na produção, ela explora temas como empoderamento, machismo, desilusão amorosa, assédio sexual, entre outros. Não existe uma sequência de assuntos, eles variam, assim como o tamanho dos poemas. Ela trabalha com poemas curtos, como em uma linha, ou com poemas longos, em torno de cinco páginas. 

Para a compreensão da obra, é necessário analisar todos os símbolos que acompanham o poema: título, desenhos etc. As ilustrações fazem toda a diferença para a interpretação e dão uma carga emocional maior as palavras da autora. É interessante que, em alguns casos, a arte exposta no livro causa estranhamento ou até desconforto perante palavras tão cheias de sentimento, sendo até mesmo dor. 

Na primeira parte do livro, chamada “murchar”, Kaur fala sobre relacionamento abusivo, dependência emocional, estupro, depreciação, foca muito nessas relações tóxicas com o outro e com ela mesma. Em “Cair”, todos os temas abordados, na primeira parte, ficam mais intensos, principalmente em temas como desilusão e depressão. 
“Ontem 
Quando saí da cama 
O sol caiu no chão e rolou pela grama 
As flores decapitaram a si mesmas 
A única coisa viva que sobrou fui eu 
E eu já não sei se isso é vida” 
- Depressão é uma sombra que mora em mim 
Na terceira parte, “enraizar”, a autora traz um capítulo mais emocional, com sentimentos atrelados a figura materna. Trazendo mais afetividade, percebemos uma escrita cheia de memórias. Ela traz, principalmente, temas ligados ao seu país, e, sobre imigração, as palavras começam a carregar muitas críticas políticas. 

Em “Crescer”, depois dos traumas relatados nos capítulos anteriores, ela abre o coração para novas paixões. Essa parte do livro fala sobre redescobertas. Temos uma visão de como é entrar em uma nova relação, depois de um relacionamento abusivo e que deixou muitas feridas. 

É bastante interessante como Kaur trata o recomeço. Ela transfere para o texto muito empoderamento e demonstra uma fase de autoconhecimento muito grande em sua escrita. É como se nós sentíssemos tudo o que ela coloca no papel. 

A última parte do livro, “Florescer”, considero o capítulo mais militante da obra. Os poemas são empoderadores, tratam da força feminina, autoestima, masturbação, de uma forma intensa, como em todos os poemas anteriores. Acredito ser uma das principais características da escrita de Rupi Kaur, assim como a objetividade. 

É um livro que trata sobre tabus, sem nenhum receio da opinião popular. De fato, entramos em uma jornada de aprendizado quando começamos a ler a obra. A cada poema, uma experiência nova, cercada de muitas emoções. Devo admitir que muitas lágrimas passaram pelas páginas da edição que guardo em meu quarto. É uma obra que identifica. Quem lê consegue se encaixar perfeitamente entre cada vírgula.

Sobre a autora - Rupi Kaur, é uma escritora contemporânea, feminista, nascida dia 5 de outubro de 1992, em Panjabe, na Índia. Aos quatro anos, ela imigrou com os seus pais para Toronto no Canadá. Ficou conhecida através do Instagram, como “instapoet”, porque seus poemas renderam muito engajamento na rede social. Ela estudou retórica e escrita na Universidade de Waterloo, em Ontário no Canadá. 

Ficha técnica
Título: O que o sol faz com as flores 
Título original: The sun and her flowers 
Autor: Rupi Kaur 
Tradução: Ana Guadalupe 
Editora: Planeta de livros 
Número de páginas: 256 
Ano de publicação: 2017
Até a próxima!
Equipe CN.

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