O compasso do filme: trilhas sonoras são mais que músicas de fundo


O casamento entre cinema e música é de longa data. Na época dos filmes mudos, como os clássicos de Chaplin, os únicos sons das produções eram a música. Um dos gêneros mais populares das últimas décadas são os musicais - vide clássicos como cantando na chuva e o premiado La La Land. Porém, mesmo quando o foco do longa não são as canções, o papel da música é um dos mais relevantes. Percebe-se que as trilhas sonoras não são meras músicas de elevador, que servem como plano de fundo para uma cena que ocorre independentemente. Pelo contrário, são um dos principais elementos da construção de uma narrativa, sendo capazes de alterar completamente a percepção de um roteiro.

Músicas têm essa capacidade mística - que é na verdade psicológica - de resgatar memórias e, junto delas, todas as emoções (Ai, o gatilho!). Daí sua importância ao contar uma história. Filmes com data marcada se tornam imersivos justamente pela nostalgia de suas canções, como é o caso de Quase Famosos, recheado de Led Zeppelin e Yes. E para filmes que, como Forrest Gump, viajam pelo tempo, as faixas vêm para situar o público pela linha cronológica: para cada época uma seleção de artistas diferentes. 
Na ficção, até a história da música pode mudar. No universo de Forrest Gump, o a garoto é o responsável pela coreografia icônica de Elvis Presley
Quem acompanha a Seção Cultura há mais tempo já sabe que a trilha sonora também reflete o estado sentimental daquela sequência, os gostos e pensamentos de uma personagem. Isso é evidente em Baby Driver, em que o protagonista expressa suas emoções por meio dos mais ecléticos ritmos. Nesse longa, a música ainda tem papel especial no enredo por ser um fator de importância na vida de Baby, devido a seus problemas de audição. Por outro lado, canções também podem despertar emoções no próprio espectador. Elas podem trazer alegria, suspense e até medo a quem assiste. O que seria da cena do assassinato no banho de Marion em Psicose não fossem os violentos violinos de Bernard Herrmann? 
O diretor Alfred Hitchcock planejava que a cena da morte de Marion não tivesse música, apenas os gritos da atriz Janet Leigh. Mas, por insistência do compositor Bernard Herrmann, uma trilha instrumental foi adicionada, criando o que é hoje a mais famosa cena de assassinato do cinema
Diversas tramas colocam a música em um patamar tão relevante que a trilha sonora se torna quase que uma personagem. Nos últimos anos, têm se tornado tendência criar filmes inteiramente dedicados à discografia de um músico ou banda, a exemplo das biografias Bohemian Rhapsody (de Freddie Mercury), Rocketman (de Elton John) e o futuro Stardust (de David Bowie); ou até mesmo de filmes mais lúdicos como a obra fantasiosa, em homenagem aos Beatles, Yesterday

O fenômeno não é de hoje: já nos anos 60 os Beatles lançavam Yellow Submarine e Help, longas de ficção embaladas por seus próprios trabalhos, criando uma narrativa paralela às poesias. A ideia foi seguida, duas décadas mais tarde, por Pink Floyd em The Wall e, mais recentemente, por Melanie Martinez em K-12. Se, por um lado, as músicas complementam a trama, nesses casos é o roteiro que se baseia nelas. E por que não um roteiro inteiramente escorado em uma única música? A encerrada Legião Urbana já deu vida a João de Santo Cristo, protagonista de Faroeste Caboclo, e, em breve, terá a adaptação de Eduardo e Mônica nas telonas brasileiras. Pois é, uma faixa isolada pode ter tanto conteúdo quanto um filme de duas horas.
Premiado no Canadá, o longa Eduardo e Mônica teve sua estreia adiada no Brasil por conta da pandemia da Covid-19
Assim como nós, os diretores são loucos pela indústria fonográfica, e esta sempre estará presente no cinema. E veja como ambas são interdependentes: o cinema não existe sem música e a música pode se eternizar no cinema. Há como ouvir My Heart Will Go On sem lembrar de Jack e Rose a bordo do Titanic? Ou All Star sem resgatar os seres mitológicos de Shrek? As melhores trilhas sonoras são aquelas que marcam nosso coração de forma que não podemos desvinculá-las dos filmes a que pertencem. Eu percebo que as mais memoráveis são aquelas que fogem do lugar comum, de músicas saturadas ou sem personalidade. 

Particularmente, aplaudo, em pé, Quentin Tarantino por sua imprevisibilidade ao selecionar suas trilhas. Quem diria que um filme do Velho Oeste combinaria com batidas do hip-hop e muito rap? Pois é, em Django Livre o casal faz todo sentido, e é justamente essa improbabilidade que faz dessa e de outras obras do diretor tão surpreendentes. 

Quer conhecer mais filmes cheios de música e minhas trilhas sonoras favoritas? Então confira este episódio do SE7ECast, em que ranqueei minhas cinco trilhas preferidas!


#PraCegoVer:

Imagem 1: GIF animado de cena de Forrest Gump. Forrest criança dança em frente a um espelho segurando uma vassoura enquanto Elvis Presley está sentado tocando violão. Forrest aparenta ter cerca de 8 anos e usa um aparelho metálico nas pernas que limita seus movimentos. Ele veste bermuda azul, camiseta de bolinhas vermelhas, botas de couro e tem os cabelos loiros bem curtos. Elvis é um homem forte de calças jeans e camisa verde listrada. Não é possível ver seu rosto. Ambos estão em um quarto iluminado com parecedes azuis e cortinhas brancas nas três janelas. O espelho é vertical, tem moldura de madeira e está no chão, ao lado de uma penteadeira também de madeira. 

Imagem 2: Cena do assassinato de Marion em Psicose. Vê se apenas os ombros e rosto da atriz Janet Leigh, que está nua e gritando. Ela demonstra desespero em sua face. Sua pele é branca e seus cabelos curtos estão molhados. Ao fundo, uma parede de azulejos claros. A imagem não tem cores, apenas escala de cinza. 

Imagem 3: Cena do filme Eduardo e Mônica. Eduardo e mônica andam de bicicleta. Eduardo está pilotantodo e Mônica está de pé atrás dele, na garupa. Ambos riem. Eduardo é o ator Gabriel Leone, um homem branco de cabelos castanhos que cobrem as orelhas. Ele usa um moletom vermelho grafado "Cool Cat" e bermuda jeans. Mônica é Alice Braga, uma mulher branca de cabelos compridos castanhos. Ela usa óculos de sol, uma camiseta azul, parte de baixo e tênis pretos. Eles pedalam em uma estrada em um parque arborizado.

Até a próxima!

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